
Aversão
Deparamo-nos hoje, e cada vez mais, com pessoas carregadas de ódio, raiva e antipatia, quer por outras pessoas, quer por alguma coisa.
Sentimentos de aversão que ninguém deveria cultivar dentro de si. No entanto cada um sabe da sua horta e do cultivo que pretende dar-lhe.
Quem somos nós para julgar?
Ainda assim, o que se pretende aqui é ajudar a todos/as quantos/as me lêem a reflectirem sobre o diferente uso que podem dar à aversão que vos assola de quando em vez.
Assistimos, frequentemente, a situações diversas de pessoas que nutrem sentimentos de aversão para com os partidos, os seus políticos e as suas mentiras, para com os jogadores de futebol e os seus ordenados principescos ou para com determinadas bandas de música, cujo som, estilo ou indumentária, repudiam.
Aversão pela orientação sexual dos outros, pela cultura e costumes característicos de determinadas zonas do nosso país ou para com familiares, amigos, colegas de trabalho ou vizinhos com os quais não se identificam.
Aversão, ódio, raiva, rejeição, repulsa.
Sentimentos pouco nobres em pessoas de bem, mas ainda menos nobres quando se destinam a prejudicar aqueles por quem se sente aversão.
Somos humanos e, por essa razão, não somos donos de tudo o que pensamos e sentimos. Somos falíveis e, por isso, é necessário, também, que não sintamos aversão pelo que somos e por quem somos.
Tudo em nós se trabalha, se aprende e se transforma.
Talvez nenhum de nós possa fugir de sentimentos como a aversão, mas podemos, eventualmente, canalizá-los para outras áreas, não lhes dando espaço para que nos possam ferir, nem aos que nos rodeiam.
E como podemos fazer isso?
Bom, porque não passamos a sentir aversão pela guerra? Pela fome? Pela pobreza? Pela violência doméstica? Pela violação? Pela corrupção?
Assim sendo, parece fácil e grande parte dos/das leitores/as afirmará que já sente aversão pelo que enumerei, que voltámos à estaca zero e que a leitura destas linhas nada acrescentou às vossas vidas.
Talvez. Todavia acredito que podemos orientar a nossa aversão para o sentido das boas acções.
Não interessa termos um discurso de “Miss Universo” em que pedimos paz para o mundo, mas nada fazemos para que ela aconteça.
(Atenção – neste particular não se pretende fazer nenhum juízo de valor em relação às modelos nem se infere que as mesmas não lutem ativamente pela paz no planeta.
Este facilitismo de linguagem tem, apenas e só, como objetivo demonstrar que não podemos ter, apenas, comportamentos e palavras de circunstância.)
Importa, assim, que possamos, todos nós, lutar, ativamente, por aquilo que nos provoca aversão e não contra quem nos faz sentir aversão.
Para nos ajudar nesse campo, existem, por exemplo, inúmeras associações com as quais podemos colaborar, bastando, para tal, que lhe ofereçamos uma parcela do nosso tempo. Nem sempre as associações precisam de dinheiro, de bens materiais ou alimentícios. Não raras vezes, o recurso que mais escasseia é o da mão-de-obra e o tempo que podemos dedicar a auxiliar quem mais precisa.
E com esse tempo, podemos ajudar pessoas ou animais sem-abrigo, vítimas de abuso ou de violência, autóctones ou migrantes, jovens ou idosos, homens ou mulheres.
Que importa isso? Que importa quem? A raça? A cor? O credo?
Existe tanto para fazer, tanto para melhorar.
Que nos possamos, todos, rebelar contra o que está mal.
Que possamos, todos, sentir aversão por aquilo que é injusto.
E por que não, lutar para que menos pessoas sintam aversão?
Para que o mundo se encha de amor em vez de rancor?
Por que não lutarmos por nós quando sabemos que, ao fazê-lo, também estamos, direta ou indiretamente, a lutar pelos outros?
Lembrem-se sempre… O mais importante na vida é estender a mão e ajudar com o coração.
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