Face ao abandono, no dia 9 de julho, pelo pai do meu filho, deixando-me desesperada e em risco de vida (eu e o bebé), passei momentos de extrema fraqueza e outros em que tive de me fazer de forte para continuar. Assim, há uma pergunta que não me tem saído da cabeça:
Porque nos fazemos de fortes?
Ontem debatia com uma amiga o conceito: se um homem mostra as suas emoções, é sensível, se uma mulher as mostra, é desequilibrada. Socialmente é assim.
Mostrar os meus sentimentos e emoções, se comunica desequilíbrio, no momento de profunda dor, abandono, negligência, assim seja. O estigma social em cima das mulheres não pode persistir.
Desde a passada sexta-feira que o pai do meu filho não escreve uma palavra e nada diz. Até essa data, dizia algumas palavras secas e desculpas vazias. Não comunicava verbalmente e desde dia 9 que não dá a cara. Acusa-me de muita coisa (sem saber de onde vem essas acusações) e nada pergunta ou de nada pede provas. Hoje não as daria. Já as quis dar confesso.
Então, face a esta profunda pressão que se substância em: 1) abandono; 2) omissão de auxílio; 3) gozo através de mensagens escritas; 3) pressão; 4) falta de comunicação; 5) histórias que inventou não sei com que propósito; 6) silêncio de novo; como deverei eu proceder? Faço-me de forte?
Sabendo que as pessoas mudam. Sabendo que é pai e terá de dar o nome para o cartão de cidadão do Amorim, o que devo esperar de uma pessoa com este padrão de ações? Como, já que toda a gente me diz que ele tem direitos, como é que devo enfrentar esses direitos? Como é que, um dia, bebé, se ele me pedir para ficar com o Amorim um fim-de-semana, sabendo que me negou auxílio, como confiar que não vai fazer o mesmo com o bebé?
Poderão responder: “nunca o faria com o filho!”. E eu replico: também pensei que nunca o faria comigo.
Andámos profundamente enganados com as pessoas. Percebemos as pessoas meigas e queridas como as boas e as frontais e duras como as más. Anda tudo invertido. Nunca vi na doçura tanta maldade como vejo hoje e nunca vi na frontalidade tanto apoio como vejo hoje.
Somos todos pessoas boas e sérias em palavras. Também somos todos fortes e todos sabemos como outras pessoas devem levar as suas vidas.
“Anabela, tu consegues sozinha. És forte!”.
“Anabela, o Amorim tem muita sorte em ter uma mãe como tu! Esquece o pai!”
Gostava de ter essas certezas. Como diz uma grande amiga minha, a Olga, com 3 filhos, sempre julgou que no segundo filho seria mais fácil e que já sabia muito sobre maternidade e depois chegou o segundo filho e era, tal como o primeiro, uma bofetada na cara e ao terceiro igual! Uma bofetada por dia, a cada dia! Muito crescimento e igual proporção de amor.
Não, não sou forte. Mas não importa. Há dias em que só espero o dia de amanhã. E que o sol entre pela janela de manhã e que seja a promessa de um dia melhor, sem medos. Há dias em que encontro a lucidez e a razão e consigo orientar-me e fazer planos. Todos os dias sozinha na cabeça. Todos os dias acompanhada no coração.
Posso não ser forte, mas sou vida. Sempre fui. Cheia, mesmo cheia de vida. E as minhas decisões, serão sempre a minhas decisões e as possíveis naquele momento. E a reprovação alheia nada me diz, porque não está cá para auxiliar sequer. Se não ajuda, não reprova também e quem o faz, é só leviano. Travem as minhas lutas e conversamos sobre isso depois.
Hoje de manhã acordei e a minha barriga duplicou! Desde ontem, desde a primeira saída real que tenho desde o estado de emergência, desde um concerto pequeno de um artista que admiro e que também é pai, que acho que tenho um pouco mais de vida. Acho que por isso o Amorim cresceu. E como cresceu!
De resto? A força virá!
Haja amigos. Haja amor!