INSIDE - As Coisas por Dentro

Morremos

Dedicado ao A.

MORREMOS e fica tudo cá: os planos a curto prazo, os planos a longo prazo e as tarefas de casa, as dívidas ao banco, as prestações do carro novo que se comprou para ter visibilidade e estatuto…

MORREMOS e nem sequer guardámos a comida no frigorifico, nem sequer organizámos a casa, a comida do armário apodrece, a da arca e do frigorífico também e a roupa lavada fica na máquina de secar e no estendal.

MORREMOS e a importância que achávamos que tínhamos esvanece, desaparece e a vida continua, as pessoas que falavam mal de nós e mesmo os amigos e as pessoas que diziam que nos amavam superam e seguem as suas rotinas e vidas normalmente.

MORREMOS e as zangas, a indignação, o orgulho, a incerteza, a impaciência, a infidelidade, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor.

MORREMOS e todos os grandes, mesmo enormes problemas que achávamos que tínhamos transformam-se num imenso vazio, vão para o vazio e puff, já não existem problemas.

Os problemas moram dentro de nós, só dentro de nós e na nossa cabeça. O coração não tem problemas.  As coisas vão ter sempre em nós a energia que colocamos nelas e só exercem em nós a influência que nós permitimos.

MORREMOS e o mundo continua o caos que lhe é normal, como se a nossa presença ou mesmo a nossa ausência não fizesse a menor diferença. E, na verdade, não faz.

Somos pequenos, tão pequenos, e na nossa pequenez somos intransigentes e prepotentes. Vivemos como imortais e esquecemo-nos a morte anda sempre à espreita e ao virar da esquina.

E matámo-nos da vida de outras pessoas e morremos nós por dentro, dentro da nossa prepotência.

MORREMOS, é mesmo verdade. É assim: fechámos os olhos e a vida foi-se…

MORREMOS e somos logo substituídos no cargo que ocupávamos na empresa.  Até as coisas que tínhamos, que líamos, os CDs que ouvíamos, são doadas, algumas deitadas fora.

Quando menos esperamos, MORREMOS…

Quantos de nós esperam morrer?

Se tivéssemos de esperar para morrer, como esperámos por uma consulta de rotina no médico, talvez pensássemos melhor no que nos espera… O que nos espera?

Se esperássemos MORRER, talvez nos arranjássemos melhor hoje, fizéssemos amor hoje, talvez afinal já pedíssemos sobremesa ao almoço…

Se soubéssemos o que é a MORTE, quem sabe se não entendêssemos que não vale a pena ressentir e entristecer com coisas parvas e banais e talvez respeitássemos mais as pessoas.

O tempo voa.

A partir do momento que nascemos, começa a nossa viagem veloz com destino ao fim – e ainda há aqueles que vivem com calma, quando somos todos nós pressa! ⠀

E nem reparámos que todos os dias, debitámos um dia, um dia a menos, porque MORREMOS todos os dias, aos poucos e MORREMOS um pouco mais a cada segundo que passa.

O QUE É QUE TU ESTÁS A FAZER COM O TEMPO QUE TE RESTA? Estás a viver o quê? Solidão? Desprezo? Banalidades?

Todos os dias quero ser melhor que o dia anterior e a vida que meto num minuto e num segundo, de ouro que é, valorizo-a ao milímetro.

Dentro da ampulheta do tempo que se conta em medidas parvas, limitamos as medidas da vida e do amor e com isso MORREMOS.

Queres MORRER assim?

E lembra-te sempre de não te matares…

Autor

Viajou por muitos países, conheceu muitas pessoas e muitos lugares. Aprendeu com todas as pessoas que observou e com quem conversou. Trabalhou em Portugal, na Bélgica, nos EUA e em Angola. Hoje desenvolve o seu trabalho na área da gestão de pessoas (recursos humanos), formação, coaching e mentoring. E escrita, adora escrever. Assumiu diferentes funções e colaborou com empresas em diferentes estados de maturação, quer em ambiente nacional, quer internacional. Desempenhou funções relacionadas com: gestão do talento e tarefas inerentes; gestão de recursos humanos em sentido lato e formação e desenvolvimento. A nível académico, estudou direito na Universidade de Coimbra, mas foi em Psicologia e no Porto que encontrou a sua verdadeira vocação. É certificada em Coaching, PNL e estuda todos os dias mais um pouco, vê mais um pouco, ouve mais um pouco para poder ser mais cultivada. Faz programas de shaping leaders e reshaping leaders e gosta muito do que faz. Costuma dizer às crianças que forma enquanto voluntária em educação para os direitos humanos: “quando mais soubermos, quanto mais conhecemos e sentimos, menos somos enganados”. Enfrenta cada dia com uma enorme alegria que é simples de ver e sentir!

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